Yuri Lichtvan Marciniak - Instrutor de Armamento de Tiro
Natural de Curitiba, Oficial de Polícia Militar do estado de São Paulo; realizou o Curso de Formação de Oficiais da Academia de Polícia Militar do Barro Branco sendo declarado Aspirante-a-Oficial em dezembro de 2007. Instrutor de Armamento e Tiro na PMESP e credenciado pela Polícia Federal. Utiliza presente espaço para discussões e apresentação sobre a temática de emprego de arma de fogo como meio de hobby, ferramenta de trabalho, esporte ou método de defesa.
sexta-feira, 16 de agosto de 2019
"Faça tudo o que Quiser": O mito do Influenciador Digital e suas armadilhas jurídicas
Roupas apertadas e camufladas. Braços tatuados, barba de lenhador canadense, cara de mau. Arma da moda na cintura, promessas atraentes. Assim hoje o mundo do tiro é liderado, de acordo com redes sociais por "profissionais" e especialistas no assunto. Porém, tal sítio necessita de estudo mais acurado do que aparenta em diversos setores que podem comprometer o entusiasta do tiro. Comprometer as vezes de forma irreversível.
A neurociência explica: o ser humano possui tendência natural de seguir aquilo que lhe agrada aos olhos e ouvidos. Parece óbvia esta afirmação: tudo é percepção seletiva. Afinal, quem gosta de ouvir algo que não lhe agrade?
Entretanto, na Ciência do Ensinar compete ao profissional falar o que é correto, não o que é bonito. Parafraseando o saudoso poeta Graciliano Ramos, "a palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer". Logo, o ensino não foi feito para atrair seguidores ou angariar likes; o ensino existe para falar a verdade, para se aprender.
Goste o leitor. Ou não.
Observamos hoje na internet uma invasão no mundo do tiro que vai na contramão do Poeta e deste autor: donos de canais virtuais que falam o que agrada aos ouvidos (e olhos) de seus seguidores. Falam de tudo, fazem de tudo. Até mesmo mentir. Nem que custe a liberdade de seus súditos digitais. Tudo, absolutamente tudo é válido para conquistar um seguidor. Um like.
O criterioso esporte do tiro necessita de instrução séria, não agradável. Compete ao profissional apontar os direitos e deveres. Seus limites. E não os ultrapassar. O professor de tiro precisa saber falar "NÃO". E o aluno saber diferenciar que não será um Instagram movimentado ou um bonito canal de Youtube que demonstrará a qualidade de ensino ora apresentada. Muito menos o ajudará caso ultrapasse o limite da licitude no desporto.
Se existe venda ilícita de entorpecentes, dentre os problemas sociais existe a Mea Culpa de quem compre.
Assim, existe a Mea Culpa de quem acredita e segue aquele pernicioso "profissional" do tiro, que troca a segurança jurídica do seu seguidor por fotos, números e fama.
Afinal real preocupação não possui com o que ensina.
Pois real preocupação não possui para com seu aluno e respectivo futuro.
Porque real e comprometido professor nunca foi.
Afinal.... tudo por um like. Não é mesmo?
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
Limpeza rotineira da arma de porte
Por solicitação de algumas pessoas que me procuraram, voltei a escrever sobre assuntos mais discutidos entre agentes de segurança, estandes de tiro, balcões de clubes e lojas de armas pelo nosso país.
Hoje venho discutir uma das variadas formas de limpeza de arma. Variada digo, pois, dependendo de sua utilização, existem alguns pontos que precisam ser tratados com maior cuidado. E "a bola da vez" é a arma usada na categoria porte.
Apesar de toda manutenção possuir a finalidade de deixar a arma em condições de pronto uso, como eu disse, a forma a qual foi utilizada irá influenciar no escalão à ser desmontado, bem como a forma de limpeza.
Uma arma de fogo necessita ser limpa com frequência sendo usada para disparos ou não. Aliás, o termo "usar a arma" é algo que engloba o manuseio, porte, transporte, depósito ou disparo da arma. Logo, cada utilização necessita de limpeza mais específica. Por exemplo; uma limpeza à ser realizada em uma arma após dezenas de disparos necessita maior atenção quanto aos resíduos de pólvora e quantidade de chumbo.
A arma usada na categoria porte possui cuidados específicos. Afinal, um pedaço de aço em constante contato com a pele humana sofre mais desgaste do que se imagina.
O nosso corpo é uma constância entre sódio e potássio. Para manter tal equilíbrio o organismo libera, das mais variadas formas o cloreto de sódio para que a máquina humana não pare. Uma dessas formas de liberar o sal é através do suor. Seja através das mãos ou do restante da pele quando a arma estiver junto do corpo do atirador, o equipamento em contato com sal e oxigênio inicia um invisível, porém presente processo de oxidação da arma. Logo, a constante limpeza da arma após lidar com ela é imprescindível.
O maior órgão humano é a pele. E o mais exposto também. Justamente pelo fato de ser a mais agredida pelo meio que a cerca, a pele é o órgão que possui maior regeneração e troca constante de camadas. Questão de sobrevivência.
A poeira em nossa casa possui um considerável porcentagem de pele morta. Está ocorrendo agora, enquanto você lê esta matéria. Ocorre enquanto você dorme. É um processo que não pára instante algum.
A arma, um mecanismo formado por peças ficará com certeza coberto com pele morta. Ao observar a arma que carrego todos os dias junto ao meu corpo, após duas semanas terá em seus cantos vivos uma fina camada branca de poeira. Pois bem. É a pele que escamou e ali ficou. Perceba que atrelado ao sal essa fina camada inicia de forma oculta e silenciosa um processo de oxidação invisível ao olho nu, mas que está ocorrendo.
É preciso portanto de uma camada de óleo entre o metal da arma e os demais produtos que iniciam a oxidação. Tal camada não pode ser exagerada. É o que iremos comentar adiante.
O simples fato de empunhar a sua arma já coloca em contato com a gordura do corpo, presente na pele. Porém não podemos deixar de simplesmente tocar na arma. O que nos compete é tomar o cuidado de toda vez que mexer no armamento, mantê-lo limpo logo após o uso.
Outra coisa: a lubrificação excessiva pode contaminar as munições. Principalmente óleos extremamente finos, como os da linha "40". Sua diminuta composição molecular pode comprometer a munição, molhando a pólvora ou a espoleta.
Se recordam da pele morta? Da mesma forma que ela repousa no armamento, um simples deslocamento de ar as remove, EXCETO se lá o metal estiver impregnado com óleo. É imprescindível que a arma esteja lubrificada com as óleo lubrificante para a diminuição de atrito entre as peças móveis e portanto, o aumento de vida útil do armamento. Porém o exagero deste óleo potencializa a criação de borras que nada mais são que acúmulos de agentes oxidantes, vindo a danificar seu armamento à longo prazo e à curto prazo podendo criar panes e falhas de funcionamento.
Limpeza: Como fazer
A retirada de poeira pode ser feita com um compressor de ar. Caso não tenha, uma escova com cerdas pode ser utilizada para a retirada de toda a sujeita. Existem alguns tipos de sujeiras, como o resíduo de gordura ou graxa que não saem simplesmente com a força da escova. Nesse caso, pode-se utilizar óleo mineral ou o tipo 40 para a limpeza das peças. Além de retirar todo resíduo de água, sal ou gordura dos dedos, estará criando já uma camada protetora das peças.
Pontos de oxidação devem ser limpos com óleo tipo 40. Dentre as propriedades desse tipo de óleo, está também o de extinguir a oxidação que esteja ocorrendo. Normalmente deixo o óleo ali alguns minutos sobre a ferrugem para que possa agir. Caso seja necessário, uso escola de metal para um atrito um pouco mais forte e após isso retiro a sujeira. É importante deixar esses minutos sobre o material para que a reação química da oxidação seja interrompida. Na foto é possível observar o óleo se transformar em uma borra alaranjada após algum tempo. Uma vez cumprida a sua finalidade, basta apenas retirar o excesso e deixar uma fina camada limpa para que a ferrugem não ocorra mais.
As borras devem ser retiradas com o uso de óleo mineral ou tipo 40, para que ali seja encerrado qualquer tipo de oxidação que por acaso esteja ocorrendo, bem como, seja todo material impuro retirado.
A arma precisa ser montada limpa e lubrificada, porém, sem excessos. Não podemos observar escorrimentos de óleos após montada e considerada finalizada a limpeza. Não se esqueça: todo excesso de óleo será uma poça de formação de borra em dias.
Hoje venho discutir uma das variadas formas de limpeza de arma. Variada digo, pois, dependendo de sua utilização, existem alguns pontos que precisam ser tratados com maior cuidado. E "a bola da vez" é a arma usada na categoria porte.
Imbel MD5 LX, calibre .40 S&W: Arma de porte de uso cotidiano do autor. |
Não atirei com a arma. Preciso limpar ela?
Arma sem efetuar disparos por duas semanas, carregada todos os dias. É um pêlo ali na placa de punho? |
A arma usada na categoria porte possui cuidados específicos. Afinal, um pedaço de aço em constante contato com a pele humana sofre mais desgaste do que se imagina.
Sal
É possível observar na rampa do cano o formato da digital do autor. Acúmulo de sal após toque. |
Pele
Observe os pontos brancos na arma. |
A poeira em nossa casa possui um considerável porcentagem de pele morta. Está ocorrendo agora, enquanto você lê esta matéria. Ocorre enquanto você dorme. É um processo que não pára instante algum.
A arma, um mecanismo formado por peças ficará com certeza coberto com pele morta. Ao observar a arma que carrego todos os dias junto ao meu corpo, após duas semanas terá em seus cantos vivos uma fina camada branca de poeira. Pois bem. É a pele que escamou e ali ficou. Perceba que atrelado ao sal essa fina camada inicia de forma oculta e silenciosa um processo de oxidação invisível ao olho nu, mas que está ocorrendo.
Observe em todo canto da arma os pontos brancos acumulados: pele morta juntada. |
Água
O processo de oxidação é catalisado com a presença da água. Logo, sempre que tomo chuva (ando de motocicleta e armado) a minha arma, com certeza, estará impregnada de suor, sal, pele morta e água. Um prato cheio para mudar da cor escura para alaranjada em dias.Base do carregador: Acúmulo de água decorrente de chuva provavelmente (meu caso). |
Graxa ou Óleo Lubrificante
Conforme já dito, a solução para impedir que o metal inicie sua oxidação por contato de ar, suor, sal, água ou pele é uma camada de óleo mineral em toda a arma. Mas, cuidado! Impregnar seu armamento de óleo lubrificante não é a solução.
O simples fato de empunhar a sua arma já coloca em contato com a gordura do corpo, presente na pele. Porém não podemos deixar de simplesmente tocar na arma. O que nos compete é tomar o cuidado de toda vez que mexer no armamento, mantê-lo limpo logo após o uso.
Extrator: A graxa retém pólvora incombusta por todo o metal. |
Outra coisa: a lubrificação excessiva pode contaminar as munições. Principalmente óleos extremamente finos, como os da linha "40". Sua diminuta composição molecular pode comprometer a munição, molhando a pólvora ou a espoleta.
Se recordam da pele morta? Da mesma forma que ela repousa no armamento, um simples deslocamento de ar as remove, EXCETO se lá o metal estiver impregnado com óleo. É imprescindível que a arma esteja lubrificada com as óleo lubrificante para a diminuição de atrito entre as peças móveis e portanto, o aumento de vida útil do armamento. Porém o exagero deste óleo potencializa a criação de borras que nada mais são que acúmulos de agentes oxidantes, vindo a danificar seu armamento à longo prazo e à curto prazo podendo criar panes e falhas de funcionamento.
Limpeza: Como fazer
A retirada de poeira pode ser feita com um compressor de ar. Caso não tenha, uma escova com cerdas pode ser utilizada para a retirada de toda a sujeita. Existem alguns tipos de sujeiras, como o resíduo de gordura ou graxa que não saem simplesmente com a força da escova. Nesse caso, pode-se utilizar óleo mineral ou o tipo 40 para a limpeza das peças. Além de retirar todo resíduo de água, sal ou gordura dos dedos, estará criando já uma camada protetora das peças.
Após alguns minutos, a oxidação é desprendida do metal graças à ação do óleo tipo 40. |
Mistura de óleo tipo 40 com ferrugem. Foi necessário utilizar escova de latão com um pouco de força para retirar os depósitos de oxidação mais profundos. |
Pontos de oxidação devem ser limpos com óleo tipo 40. Dentre as propriedades desse tipo de óleo, está também o de extinguir a oxidação que esteja ocorrendo. Normalmente deixo o óleo ali alguns minutos sobre a ferrugem para que possa agir. Caso seja necessário, uso escola de metal para um atrito um pouco mais forte e após isso retiro a sujeira. É importante deixar esses minutos sobre o material para que a reação química da oxidação seja interrompida. Na foto é possível observar o óleo se transformar em uma borra alaranjada após algum tempo. Uma vez cumprida a sua finalidade, basta apenas retirar o excesso e deixar uma fina camada limpa para que a ferrugem não ocorra mais.
.....agora sim! |
A arma precisa ser montada limpa e lubrificada, porém, sem excessos. Não podemos observar escorrimentos de óleos após montada e considerada finalizada a limpeza. Não se esqueça: todo excesso de óleo será uma poça de formação de borra em dias.
Conclusão
Uma arma usada para o porte possui como principais adversários o sal oriundo do corpo e a pele morta que, misturando-se com graxa ou óleo em excesso causam borras e falhas de funcionamento. A limpeza, mesmo não atirando com a arma, são importantíssimas para a curto prazo manter a arma livre de panes de funcionamento e, para longo prazo, oxidações em pontos ocultos.sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017
Passagem de cano pelo abrigo
O fatiamento em paredes ou obstáculos, apesar de ser um assunto muito discutido e batido em aulas de tiro, apresentam alguns aspectos que são constantemente relembrados durante os treinos práticos.
Seja para a progressão em campo real; seja para a saudável prática de airsoft através do treinamento Force - on - force, a correta execução é imprescindível para a sobrevivência.
Ao observar o vídeo acima de um jogo de airsoft, notamos um erro básico: em primeira pessoa o jogador, mesmo abrigado, realiza o fatiamento para progredir no terreno. Porém, foi eliminado. Culpa do adversário que o atingiu?? Ou erro de procedimento?
Projétil não faz curva. Para ser visto o jogador também deveria observar de onde partiram os disparos. E não foi o que ocorreu. O erro? A demonstração de sua presença para os adversários sem conseguir realizar uma visada para se defender.
Um erro primário, como já disse, que custou caro. Ainda bem que era um jogo de airsoft. Caso fossem disparos reais, o erro seria irreversível. Vamos aprender.
Fatiamento perto ou longe do anteparo? Depende. Cada caso é um caso. Exponho em minhas aulas as situações em que são convenientes estar próximo ou não da cobertura a ser fatiada. Fato: o seu limite é a ponta do cano.
As imagens falam por si. Ao realizar o fatiamento, o armamento precisa estar em condições de pronto emprego*. A exposição desnecessária, além de aumentar a sua massa para ser atingida por disparos adversários, permite demonstrar de forma desnecessária o seu posicionamento.
Além do correto posicionamento de pernas e braços que cobro arduamente em minhas instruções, o atirador precisa ver e olhar.
Qual a diferença?
Já quem ultrapassa o limite com o cano dá chance de ser visto e não ver. Poderá, mesmo que realize o fatiamento, ser atingido por disparos sem chance de reagir.
A passagem do cano é um tema básico em cursos táticos que vislumbram progressão em terreno. Seja para medida real ou recreativa na utilização de armas, a falta de treinamento deste item muitas vezes leva ao agente que está progredindo a ser identificado no campo de forma precoce, sendo colocado por ele mesmo em desvantagem e perigo.
O treino, bem como a avaliação de risco devem ser realizados junto de instrutores credenciados e formados para que o avaliado possa caminhar com suas próprias pernas - literalmente.
Apesar de muitos cursos "táticos" pregarem treinos extraordinários, muitas vezes quando são colocados em prática descobrimos que os ensinamentos absorvidos não servem.
Melhor que treinos extraordinários de situações hipotéticas que podem ser que nunca ocorram, o melhor treino é o realizado com constância de questões básicas de tiro, como a passagem de cano pelo anteparo. Tais treino têm sido de maior relevância e importância no meio de usuários de armas, de fogo ou não.
Seja para a progressão em campo real; seja para a saudável prática de airsoft através do treinamento Force - on - force, a correta execução é imprescindível para a sobrevivência.
Ao observar o vídeo acima de um jogo de airsoft, notamos um erro básico: em primeira pessoa o jogador, mesmo abrigado, realiza o fatiamento para progredir no terreno. Porém, foi eliminado. Culpa do adversário que o atingiu?? Ou erro de procedimento?
Projétil não faz curva. Para ser visto o jogador também deveria observar de onde partiram os disparos. E não foi o que ocorreu. O erro? A demonstração de sua presença para os adversários sem conseguir realizar uma visada para se defender.
Um erro primário, como já disse, que custou caro. Ainda bem que era um jogo de airsoft. Caso fossem disparos reais, o erro seria irreversível. Vamos aprender.
Seu Limite é a ponta do cano
Fatiamento perto ou longe do anteparo? Depende. Cada caso é um caso. Exponho em minhas aulas as situações em que são convenientes estar próximo ou não da cobertura a ser fatiada. Fato: o seu limite é a ponta do cano.
Correta posição para o fatiamento. |
Apoiar a arma no anteparo pode ser mais confortável. Mas pode ser fatal. |
As imagens falam por si. Ao realizar o fatiamento, o armamento precisa estar em condições de pronto emprego*. A exposição desnecessária, além de aumentar a sua massa para ser atingida por disparos adversários, permite demonstrar de forma desnecessária o seu posicionamento.
"Armamento em pronto emprego: arma em condições de disparo perfeitamente alinhado ao seu aparelho de pontaria. Em todo instante."
A área em vermelho, de Perigo, será dentro da proporcionalidade Velocidade X Técnica verificada com segurança. |
Além do correto posicionamento de pernas e braços que cobro arduamente em minhas instruções, o atirador precisa ver e olhar.
Qual a diferença?
"Não basta ter a visão do que está além do abrigo. É preciso olhar e realizar a correta leitura do cenário. Assim, ao fatiar o terreno, somente quem estiver na sua linha de tiro poderá lhe atingir. Não existem desvantagens táticas nessa hora."
Ao ultrapassar o cano do anteparo, você está adentrando a área de perigo ( assinalada de vermelho). Poderá ser atingido, sem chance de reagir. |
Já quem ultrapassa o limite com o cano dá chance de ser visto e não ver. Poderá, mesmo que realize o fatiamento, ser atingido por disparos sem chance de reagir.
Sob outro ângulo. Quem avança de forma errada não possui chance alguma de reagir. Um alvo perfeito para quem está na defensiva. |
A passagem do cano é um tema básico em cursos táticos que vislumbram progressão em terreno. Seja para medida real ou recreativa na utilização de armas, a falta de treinamento deste item muitas vezes leva ao agente que está progredindo a ser identificado no campo de forma precoce, sendo colocado por ele mesmo em desvantagem e perigo.
O treino, bem como a avaliação de risco devem ser realizados junto de instrutores credenciados e formados para que o avaliado possa caminhar com suas próprias pernas - literalmente.
Apesar de muitos cursos "táticos" pregarem treinos extraordinários, muitas vezes quando são colocados em prática descobrimos que os ensinamentos absorvidos não servem.
Melhor que treinos extraordinários de situações hipotéticas que podem ser que nunca ocorram, o melhor treino é o realizado com constância de questões básicas de tiro, como a passagem de cano pelo anteparo. Tais treino têm sido de maior relevância e importância no meio de usuários de armas, de fogo ou não.
terça-feira, 29 de novembro de 2016
Carabina CBC 8022
Hoje falarei de uma arma que possuo um grande apreço; seja pela sua mobilidade, facilidade, manutenção e herança bélica. Estou falando de uma carabina de fabricação nacional de uso permitido, de fácil manutenção e excelente custo-benefício: as Carabinas da CBC, em específico, a modelo 8022.
Dos dados técnicos
O sistema de carregamento manual, por ação de ferrolho, foi uma das características que mais me atraiu entre este modelo e o modelo 7022. Falarei mais adiante destas diferenças. O sistema "bolt action" emprega toda a queima de pólvora para impulsão do projétil, o que não ocorre no sistema semiautomático.
O calibre .22lr possui como grande ponto positivo a relação custo-benefício. É a arma que mais se pode atirar e tal prática caber no bolso do usuário.
Quando estava por comprar uma carabina para treinamento de tiro de precisão, cheguei a pensar em adquirir uma carabina Puma, o modelo famoso Winchester, no calibre .38. Este calibre possui um poder de parada muito superior à .22lr, associando ainda mais o comprimento do cano de uma carabina.
Entretanto, o preço médio da munição me convenceu em optar pelo .22lr. Apesar de possuir um modesto poder de parada e de ser usado como opção de segurança pessoal e patrimonial, claro que, associando o tipo de munição .22lr à ser utilizada, o comprimento do cano da arma, distância do alvo e local de impacto, a carabina possui vantagens em relação à uma arma curta de calibre superior. Farei alguns considerandos mais adiante.
O carregador possui capacidade de dez disparos. Para disparos de precisão possui boa capacidade. Diferente do caso do carregador de carabina modelo 7022, que sugere disparos mais rápidos pelo fato de ser semiautomática. Para tiro dinâmico, que envolve movimento, a capacidade é aquém do esperado.
A coronha possui duas opções de compra: em madeira de lei tipo Monte Carlo envernizado ou polipropileno com fibra de vidro. Para um emprego mais rústico do armamento, como uma constante de ambiente rural, local este sujeito às intempéries e ao meio aquático sem sombra de duvidas a coronha de polímero é melhor, afinal, não exige um cuidado maior além de manter seca e limpa. Já a coronha de madeira possui melhor acabamento e beleza. Não obstante, para atiradores que prezam por um equipamento elegante ( que é o meu caso) e maior fidelidade às armas snipers da Segunda Guerra Mundial, opta-se por acabamento em madeira. Ressalto que em qualquer instante o proprietário pode adquirir e comprar a coronha que não possui e realizar a substituição sem necessitar alterar dado nenhum na CRAF (certificado de registro de arma de fogo). Existem alguns atiradores que inclusive customizam uma coronha própria para ser utilizada no armamento.
O acabamento com o cano oxidado dão ao atirador uma vantagem furtiva. Entretanto, é a forma que o metal mais facilmente oxida. Diferente do acabamento inoxidado, dando maior durabilidade ao equipamento em ambiente rural.
O sistema de mira possui massa fixa e protegida; alça regulável micrometricamente. Possui em seu corpo local para acoplar mira ótica, considerando sua finalidade de tiros de precisão. Acrescento que o modelo 7022 possui mesmo local para adaptar sistema de pontaria.
O tipo de luneta não pode ser superior a 6X36mm (aumento de seis vezes no zoom, por trinta e seis milímetros de diâmetro da lente da luneta) no caso de acessórios de arma de uso permitido. E recomendo que não se utilize acima disso, considerando que o disparo de precisão ( e isto é relativo) desta arma gira na distância de 200-300 metros.
Herança Bélica: O sistema Mauser
Não basta apenas saber atirar; é preciso saber a origem deste sistema empregado até hoje em armas longas por sistema de carregamento por repetição.
Dentre as vantagens do modelo 8022, o sistema Mauser é um que abrilhanta. Explico:
Os modelos semiautomáticos utilizam parte da pressão gerada da queima de pólvora para ciclar o sistema.
Após o disparo, é necessário ejetar o estojo da câmara para que seja inserido novo cartucho e assim a arma esteja em condições de efetuar novo disparo. Além do ferrolho projetado pelos célebres irmãos realizar tal tarefa, quando o usuário força a alavanca para baixo ( o que é um charme que só perde para a ejeção do estojo), o sistema é trancado para que não haja fuga de gases decorrentes da explosão.
Ocorre que a a explosão da pólvora contida no cartucho, no sistema semi-auto, é empregado para realizar a ciclagem do sistema além de impulsionar o projétil. Logo, parte dos gases que deveriam estar impulsionando o projétil ao longo do cano estarão sendo empregados para outra finalidade. O sistema Mauser impede isso.
O sistema de carregamento manual é feito por força muscular. Claro que isso torna a cadência dos disparos mais lenta. Porém é ponto pacífico que o projétil deixa o cano com maior velocidade.
Para disparos mais rápidos, com pluralidade de alvos ou alvo em constante movimento, onde o primeiro disparo pode não ser o certeiro, prefira armas semi-automáticas. No caso das carabinas de uso permitido de fabricação nacional, o modelo 7022.
O sistema de carregamento criado pelos irmãos Peter Paul e Wilhelem Mauser foi o que se consolidou. Entretanto não foi o único. Ressalto que desde 1860 armas passaram a usar sistema de carregamento por manobra mecânica de ferrolho.
Em paralelo à tecnologia européia, o projetista Tyler Henry ( EUA) em 1862 lançou a carabina modelo 1860, projeto da indústria Whinchester, embrião da modelo Winchester 66, a famosa "yellow boy". Iniciava aí um modelo de arma que merece reportagem dedicada totalmente à sua criação, famosa pelo emprego no oeste americano. Armamento até hoje fabricado no Brasil, de consagrado uso por atiradores e caçadores em nosso país em calibres permitidos .38 e .44-40.
Diferente do sistema de repetição americano, que era acionado por alavanca no guarda-mato, o sistema europeu era de repetição por alavanca na parte superior do ferrolho, sendo mais prático este para tiros inclinados e mantendo o armamento no ombro encostado.
O armamento criado pelos irmãos Mauser no ano de 1871 foi a base do fuzil de infantaria k98, o Mauser Infanteriegewehr 98, do ano 1898. Este modelo foi emprego nas Primeira e Segunda Guerra Mundiais, sendo exato modelo de mosquetão usado no Brasil até os dias de hoje em escolas militares para cursos de maneabilidade. Durante dois anos e meio este autor, quando em Formação na Academia de Polícia Militar do Barro Branco utilizou o mosquetão com o célebre sistema de carregamento.
O estudo de um armamento não é, antes de mais nada, um desperdício de tempo bem como uma "encheção de linguiça". O sistema Mauser, muito criticado por "Instrutores" e "atiradores" que, de forma perniciosa postam vídeos e textos na internet criticando o armamento são antes de mais nada formadores de opinião. Tais artigos são confeccionados, muitas das vezes, por opiniões particulares e de forma ilógica, sendo o respectivo autor um desconhecedor total do equipamento bélico que possui em mãos.
Muito vejo críticas ácidas sobre o modelo 8022; porém os autores destas críticas não sabem sequer que o sistema de carregamento passou por duas grandes guerras mundiais e opera até a atualidade em forças armas de policiais do mundo todo, há quase um século e meio após sua criação.
http://www.cbc.com.br/upload/informativos/7.pdf
Farei alguns considerandos sobre munições que mais utilizo e encontro com facilidade em clubes de tiro:
Standard: Com ponta de 40 grains, é a munição mais barata vendida em caixas contendo cinquenta cartuchos ou em pequenas latas contendo trezentas unidades. É a munição a ser utilizada para disparos com relativa precisão. Eu digo "relativa precisão" pois o que considero preciso pode não ser para você leitor, e o inverso. Falarei mais adiante obre isso. Para a prática de plinking (tiro em lata) a munição standard possui ótimo custo-benefício.
Hyper: A ponta oca, com acabamento em latão garante maior poder de parada da categoria. A energia em Joules está próxima da munição ogival - ponta de chumbo de um revólver .38, sendo o cano deste de quatro polegadas de comprimento.
O efeito da câmara temporária causada pela ponta "hollow point" garante eficiente transmissão de energia, sendo a melhor opção para defesa pessoal. Para disparos em corpos líquidos a eficiência é a maior.
Finalizo os considerandos do binômio arma-munição aqui em dois tópicos:
O calibre .22lr possui como grande qualidade a possibilidade de compra em larga escala. Além do preço em conta, a legislação vigente permite o usuário adquirir até trezentos cartuchos por mês. É uma considerável quantidade de disparos para tiros de precisão.
Logo, a arma é indicada para iniciantes e entusiastas no esporte. Apesar da munição possuir alcance total de quase um quilômetro ( este valor varia bastante), o disparo possui relativa precisão para prática de tiro ao alvo e plinking. Mas definitivamente a arma não serve para um disparo de comprometimento.
Além do baixo poder de parada, há outro fator preponderante para que o armamento e sua munição não seja empregado em tiros de comprometimento. Vamos observar a figura abaixo:
Peço que sejam observadas as figuras da terceira fileira, mais abaixo, a qual representam os cortes transversais dos projéteis. Verifiquem que o formato côncavo prepondera em todos os projéteis.
São todos projéteis com base côncava, ou "cup base". É uma base de projétil de uso geral, que possui como finalidade aumentar a pressão de impulso no centro do projétil, lançando com a máxima velocidade possível.
Já uma ponta utilizada para disparos em longas distâncias, inclusive o tiro de precisão para centenas de metros, possui uma ponta conforme figura abaixo:
Percebam a parte inferior do projétil, que vai crimpada no estojo. Possui um formato chamado de "boat tail", ou então, popa de barco. Esse design permite ao projétil melhor aerodinâmica, sendo mais fiel à balística, sofrendo da menor forma possível aos efeitos que tirariam da rota previamente planejada no momento do disparo.
Logo, a munição da CBC não possui projeto de disparos de longa distância. Seja pelo modesto calibre .22; seja pelo formato da ponta; seja pela qualidade de pólvora empregada nos cartuchos de fogo circular, a carabina CBC8022 SIM é uma opção barata, porém, mesmo tendo como base o projeto Mauser, não possui condições determinantes para efetuar um disparo com qualidade para centenas de metros.
Não é a munição que possui baixa qualidade, portanto. É o projeto que não permite - e não deve permitir - uma balística estável.
Mais uma vez reforço a escolha pela carabina com alavanca no ferrolho ao invés da carabina modelo semiauto. A expansão dos gases do modesto calibre .22 é totalmente utilizada na impulsão do projétil, o que não ocorre no 7022.
Não vou aprofundar neste tema. Não é, desta vez, o objetivo. Tal discussão necessita maior conhecimento. Mas fica a idéia para uma próxima reportagem.
O registro de segurança da carabina está no guarda-mato. Aparecendo o registro vermelho a arma está em condições de disparo.
A inserção do carregador na arma é análoga de qualquer pistola.
Para carregar o armamento, o movimento no ferrolho precisa ser firma, mas não necessariamente forte.
Existe a indicação - uma marca vermelha - na parte superior do ferrolho, indicando que o sistema está armado. Não necessariamente indica que exista uma munição na câmara.
Não se deve guardar a arma nesta situação, pois a mola permanecerá tensionada.
Caso a arma esteja carregada e o atirador decida por não efetuar mais o disparo, deverá ser seguidas as normas de segurança para descarregá-la.
Com a arma travada, dedo fora do gatilho e apontada para direção segura, o usuário deverá retirar o carregador e manobrar o ferrolho de duas a três vezes, realizando inspeção física e visual.
Para limpeza do armamento, após verificar que a arma de fogo está descarregada, o usuário deverá manobrar o ferrolho para trás e acionar a tecla do gatilho, retirando totalmente o conjunto.
Após limpeza o processo de montagem é inverso.
Dica: A limpeza do armamento deve sempre ser realizado da câmara no sentido da coroa do cano, nunca o oposto. Por dois motivos:
1º - A sujeira resultante da combustão da pólvora é lançada para fora do armamento e não o contrário;
2º - O movimento repetitivo e lateralizado com as hastes de limpeza próximo à coroa do cano provocam microlesões que, ao longo do tempo, provocam desestabilizações na saída do projétil. Para uma arma de precisão, tal característica pode gerar a condenação da arma para a disparos precisos.
O armamento possui ótimo custo - benefício. Considerando as dificuldades atuais para a aquisição de arma de fogo em nosso país e; a documentação para a compra e transporte de munição, cem como quantidade de cartuchos, o calibre .22. é a opção mais viável para a prática de tiro esportivo e plinking.
O estampido da arma é menor frente aos outros calibres.
O preço da munição permite muitos disparos.
A manutenção é fácil de ser executada. É um armamento que possui plenas condições de estar décadas em "status quo" operacional.
Seu sistema de carregamento, de exsperiência secular, foi utilizado por exércitos nas Primeira e Segunda Guerras Mundiais por ambos lados do conflito. E é até hoje utilizado para armas de longo alcance e precisão.
Para iniciantes e entusiastas no tiro de precisão, a CBC8022 é uma excepcional escolha. Adquiri a minha em 2010 e até hoje não me arrependi da aquisição. Adquiri posteriormente uma carabina puma cal .38 para defesa. Entretanto da modesta, porém valente CBC8022 não me desfiz.
Fiz uma ótima escolha para a saudável prática do desporto.
No vídeo abaixo, dentre alguns que gravei, executo uma série de disparos. Uma pequena demonstração do que a arma é capaz de fazer.
Dos dados técnicos
Na foto, alavanca do ferrolho da carabina CBC8022. |
O sistema de carregamento manual, por ação de ferrolho, foi uma das características que mais me atraiu entre este modelo e o modelo 7022. Falarei mais adiante destas diferenças. O sistema "bolt action" emprega toda a queima de pólvora para impulsão do projétil, o que não ocorre no sistema semiautomático.
Dependendo da região do país, o cartucho .22lr custa menos que R$1,00. |
O calibre .22lr possui como grande ponto positivo a relação custo-benefício. É a arma que mais se pode atirar e tal prática caber no bolso do usuário.
Quando estava por comprar uma carabina para treinamento de tiro de precisão, cheguei a pensar em adquirir uma carabina Puma, o modelo famoso Winchester, no calibre .38. Este calibre possui um poder de parada muito superior à .22lr, associando ainda mais o comprimento do cano de uma carabina.
Entretanto, o preço médio da munição me convenceu em optar pelo .22lr. Apesar de possuir um modesto poder de parada e de ser usado como opção de segurança pessoal e patrimonial, claro que, associando o tipo de munição .22lr à ser utilizada, o comprimento do cano da arma, distância do alvo e local de impacto, a carabina possui vantagens em relação à uma arma curta de calibre superior. Farei alguns considerandos mais adiante.
O carregador possui capacidade de dez disparos. Para disparos de precisão possui boa capacidade. Diferente do caso do carregador de carabina modelo 7022, que sugere disparos mais rápidos pelo fato de ser semiautomática. Para tiro dinâmico, que envolve movimento, a capacidade é aquém do esperado.
Os Acabamentos existentes para o modelo 8022
Não existe armamento 100% adequado. O usuário antes de escolher o modelo final deverá levar em conta o propósito de aquisição do armamento aliado ao gosto pessoal. |
O acabamento com o cano oxidado dão ao atirador uma vantagem furtiva. Entretanto, é a forma que o metal mais facilmente oxida. Diferente do acabamento inoxidado, dando maior durabilidade ao equipamento em ambiente rural.
O sistema de mira possui massa fixa e protegida; alça regulável micrometricamente. Possui em seu corpo local para acoplar mira ótica, considerando sua finalidade de tiros de precisão. Acrescento que o modelo 7022 possui mesmo local para adaptar sistema de pontaria.
O tipo de luneta não pode ser superior a 6X36mm (aumento de seis vezes no zoom, por trinta e seis milímetros de diâmetro da lente da luneta) no caso de acessórios de arma de uso permitido. E recomendo que não se utilize acima disso, considerando que o disparo de precisão ( e isto é relativo) desta arma gira na distância de 200-300 metros.
Herança Bélica: O sistema Mauser
Ferrolho da carabina 8022: sistema empregado desde 1871 com poucas modificações. |
Não basta apenas saber atirar; é preciso saber a origem deste sistema empregado até hoje em armas longas por sistema de carregamento por repetição.
Dentre as vantagens do modelo 8022, o sistema Mauser é um que abrilhanta. Explico:
Os modelos semiautomáticos utilizam parte da pressão gerada da queima de pólvora para ciclar o sistema.
E o que é "ciclar" o sistema?
Após o disparo, é necessário ejetar o estojo da câmara para que seja inserido novo cartucho e assim a arma esteja em condições de efetuar novo disparo. Além do ferrolho projetado pelos célebres irmãos realizar tal tarefa, quando o usuário força a alavanca para baixo ( o que é um charme que só perde para a ejeção do estojo), o sistema é trancado para que não haja fuga de gases decorrentes da explosão.
Ocorre que a a explosão da pólvora contida no cartucho, no sistema semi-auto, é empregado para realizar a ciclagem do sistema além de impulsionar o projétil. Logo, parte dos gases que deveriam estar impulsionando o projétil ao longo do cano estarão sendo empregados para outra finalidade. O sistema Mauser impede isso.
O sistema de carregamento manual é feito por força muscular. Claro que isso torna a cadência dos disparos mais lenta. Porém é ponto pacífico que o projétil deixa o cano com maior velocidade.
Para disparos mais rápidos, com pluralidade de alvos ou alvo em constante movimento, onde o primeiro disparo pode não ser o certeiro, prefira armas semi-automáticas. No caso das carabinas de uso permitido de fabricação nacional, o modelo 7022.
Resumindo: O sistema Mauser emprega a expansão de gases totalmente para impulsionar o projétil. Já o sistema semi-automático retira parte desta expansão para ciclar o sistema.
O sistema de carregamento criado pelos irmãos Peter Paul e Wilhelem Mauser foi o que se consolidou. Entretanto não foi o único. Ressalto que desde 1860 armas passaram a usar sistema de carregamento por manobra mecânica de ferrolho.
Em paralelo à tecnologia européia, o projetista Tyler Henry ( EUA) em 1862 lançou a carabina modelo 1860, projeto da indústria Whinchester, embrião da modelo Winchester 66, a famosa "yellow boy". Iniciava aí um modelo de arma que merece reportagem dedicada totalmente à sua criação, famosa pelo emprego no oeste americano. Armamento até hoje fabricado no Brasil, de consagrado uso por atiradores e caçadores em nosso país em calibres permitidos .38 e .44-40.
A criação do sistema de manobra de ferrolho no Tempo. |
Diferente do sistema de repetição americano, que era acionado por alavanca no guarda-mato, o sistema europeu era de repetição por alavanca na parte superior do ferrolho, sendo mais prático este para tiros inclinados e mantendo o armamento no ombro encostado.
Uma imagem que resume o desenvolvimento de armas longas no século XIX: O acionamento mecânico do ferrolho nos modelos americano e europeu. |
O armamento criado pelos irmãos Mauser no ano de 1871 foi a base do fuzil de infantaria k98, o Mauser Infanteriegewehr 98, do ano 1898. Este modelo foi emprego nas Primeira e Segunda Guerra Mundiais, sendo exato modelo de mosquetão usado no Brasil até os dias de hoje em escolas militares para cursos de maneabilidade. Durante dois anos e meio este autor, quando em Formação na Academia de Polícia Militar do Barro Branco utilizou o mosquetão com o célebre sistema de carregamento.
De 1898 aos dias atuais. As modernas armas snipers, por ação de alavanca de ferrolho até hoje utilizam o sistema Mauser. |
Teste de agrupamento X velocidade de ciclagem. Teste feito em 2011. |
O estudo de um armamento não é, antes de mais nada, um desperdício de tempo bem como uma "encheção de linguiça". O sistema Mauser, muito criticado por "Instrutores" e "atiradores" que, de forma perniciosa postam vídeos e textos na internet criticando o armamento são antes de mais nada formadores de opinião. Tais artigos são confeccionados, muitas das vezes, por opiniões particulares e de forma ilógica, sendo o respectivo autor um desconhecedor total do equipamento bélico que possui em mãos.
Muito vejo críticas ácidas sobre o modelo 8022; porém os autores destas críticas não sabem sequer que o sistema de carregamento passou por duas grandes guerras mundiais e opera até a atualidade em forças armas de policiais do mundo todo, há quase um século e meio após sua criação.
Tipos de Munição
Das munições produzidas no Brasil para uso em carabinas, as chamadas .22lr (lr = long rifle = armas longas); possuímos seis tipos. Vou colocar abaixo um link da fábrica CBC, que possui um arquivo em .pdf bem completo sobre o assunto:http://www.cbc.com.br/upload/informativos/7.pdf
Farei alguns considerandos sobre munições que mais utilizo e encontro com facilidade em clubes de tiro:
Standard: Com ponta de 40 grains, é a munição mais barata vendida em caixas contendo cinquenta cartuchos ou em pequenas latas contendo trezentas unidades. É a munição a ser utilizada para disparos com relativa precisão. Eu digo "relativa precisão" pois o que considero preciso pode não ser para você leitor, e o inverso. Falarei mais adiante obre isso. Para a prática de plinking (tiro em lata) a munição standard possui ótimo custo-benefício.
Relativa precisão: Dependendo da distância o conceito "precisão" é alterado. Até distância de vinte metros, a precisão poderá ser considerada a cabeça de um palito de fósforo. A 250 metros, para uma carabina .22 em ambiente aberto, suscetível à vento, umidade, pressão e outros fenômenos meteorológicos, o acerto do alvo humanóide em qualquer ponto poderá ser considerado preciso também.
Hyper: A ponta oca, com acabamento em latão garante maior poder de parada da categoria. A energia em Joules está próxima da munição ogival - ponta de chumbo de um revólver .38, sendo o cano deste de quatro polegadas de comprimento.
O efeito da câmara temporária causada pela ponta "hollow point" garante eficiente transmissão de energia, sendo a melhor opção para defesa pessoal. Para disparos em corpos líquidos a eficiência é a maior.
Câmara temporária: é o deslocamento de líquidos e tecidos durante a passagem do projétil no corpo, gerado pela deformação da ponta em decorrência do princípio de ação-reação entre os objetos.
Finalizo os considerandos do binômio arma-munição aqui em dois tópicos:
O calibre .22lr possui como grande qualidade a possibilidade de compra em larga escala. Além do preço em conta, a legislação vigente permite o usuário adquirir até trezentos cartuchos por mês. É uma considerável quantidade de disparos para tiros de precisão.
Logo, a arma é indicada para iniciantes e entusiastas no esporte. Apesar da munição possuir alcance total de quase um quilômetro ( este valor varia bastante), o disparo possui relativa precisão para prática de tiro ao alvo e plinking. Mas definitivamente a arma não serve para um disparo de comprometimento.
Disparo de Comprometimento é o termo usado para o tiro policial dado por um sniper em um agressor dentro de um teatro de operações durante uma Crise, sendo esta uma das opções táticas possíveis.
Além do baixo poder de parada, há outro fator preponderante para que o armamento e sua munição não seja empregado em tiros de comprometimento. Vamos observar a figura abaixo:
Munições nacionais CBC cal .22. FONTE: SITE DA CBC. |
São todos projéteis com base côncava, ou "cup base". É uma base de projétil de uso geral, que possui como finalidade aumentar a pressão de impulso no centro do projétil, lançando com a máxima velocidade possível.
Já uma ponta utilizada para disparos em longas distâncias, inclusive o tiro de precisão para centenas de metros, possui uma ponta conforme figura abaixo:
Percebam a parte inferior do projétil, que vai crimpada no estojo. Possui um formato chamado de "boat tail", ou então, popa de barco. Esse design permite ao projétil melhor aerodinâmica, sendo mais fiel à balística, sofrendo da menor forma possível aos efeitos que tirariam da rota previamente planejada no momento do disparo.
Logo, a munição da CBC não possui projeto de disparos de longa distância. Seja pelo modesto calibre .22; seja pelo formato da ponta; seja pela qualidade de pólvora empregada nos cartuchos de fogo circular, a carabina CBC8022 SIM é uma opção barata, porém, mesmo tendo como base o projeto Mauser, não possui condições determinantes para efetuar um disparo com qualidade para centenas de metros.
Não é a munição que possui baixa qualidade, portanto. É o projeto que não permite - e não deve permitir - uma balística estável.
Mais uma vez reforço a escolha pela carabina com alavanca no ferrolho ao invés da carabina modelo semiauto. A expansão dos gases do modesto calibre .22 é totalmente utilizada na impulsão do projétil, o que não ocorre no 7022.
Não vou aprofundar neste tema. Não é, desta vez, o objetivo. Tal discussão necessita maior conhecimento. Mas fica a idéia para uma próxima reportagem.
Funcionamento e Limpeza
O registro de segurança da carabina está no guarda-mato. Aparecendo o registro vermelho a arma está em condições de disparo.
A inserção do carregador na arma é análoga de qualquer pistola.
Para carregar o armamento, o movimento no ferrolho precisa ser firma, mas não necessariamente forte.
Indicador de sistema armado. |
Existe a indicação - uma marca vermelha - na parte superior do ferrolho, indicando que o sistema está armado. Não necessariamente indica que exista uma munição na câmara.
Não se deve guardar a arma nesta situação, pois a mola permanecerá tensionada.
Caso a arma esteja carregada e o atirador decida por não efetuar mais o disparo, deverá ser seguidas as normas de segurança para descarregá-la.
Com a arma travada, dedo fora do gatilho e apontada para direção segura, o usuário deverá retirar o carregador e manobrar o ferrolho de duas a três vezes, realizando inspeção física e visual.
Para limpeza do armamento, após verificar que a arma de fogo está descarregada, o usuário deverá manobrar o ferrolho para trás e acionar a tecla do gatilho, retirando totalmente o conjunto.
Após limpeza o processo de montagem é inverso.
Dica: A limpeza do armamento deve sempre ser realizado da câmara no sentido da coroa do cano, nunca o oposto. Por dois motivos:
1º - A sujeira resultante da combustão da pólvora é lançada para fora do armamento e não o contrário;
2º - O movimento repetitivo e lateralizado com as hastes de limpeza próximo à coroa do cano provocam microlesões que, ao longo do tempo, provocam desestabilizações na saída do projétil. Para uma arma de precisão, tal característica pode gerar a condenação da arma para a disparos precisos.
Coroa do cano da carabina CBC8022. |
Coroa de cano: Ao observar o final do cano da arma, é possível verificar que ele não é completamente redondo. Possui cheios e vazios que dão o movimento helicoidal ao projétil. A preservação uniforme - e o desgaste também - dessas estrias garantem a boa balística da arma. Tal saída possui o nome de coroa do cano.
Considerações Finais
O armamento possui ótimo custo - benefício. Considerando as dificuldades atuais para a aquisição de arma de fogo em nosso país e; a documentação para a compra e transporte de munição, cem como quantidade de cartuchos, o calibre .22. é a opção mais viável para a prática de tiro esportivo e plinking.
O estampido da arma é menor frente aos outros calibres.
O preço da munição permite muitos disparos.
A manutenção é fácil de ser executada. É um armamento que possui plenas condições de estar décadas em "status quo" operacional.
Seu sistema de carregamento, de exsperiência secular, foi utilizado por exércitos nas Primeira e Segunda Guerras Mundiais por ambos lados do conflito. E é até hoje utilizado para armas de longo alcance e precisão.
Para iniciantes e entusiastas no tiro de precisão, a CBC8022 é uma excepcional escolha. Adquiri a minha em 2010 e até hoje não me arrependi da aquisição. Adquiri posteriormente uma carabina puma cal .38 para defesa. Entretanto da modesta, porém valente CBC8022 não me desfiz.
Fiz uma ótima escolha para a saudável prática do desporto.
No vídeo abaixo, dentre alguns que gravei, executo uma série de disparos. Uma pequena demonstração do que a arma é capaz de fazer.
FONTE:
-Machado, Maurício Corrêa Pimentel. COLEÇÃO ARMAMENTO. Edição I. 2010.
-Dorling Kindersley. WEAPON: A VISUAL HISTORY OF ARMS AND ARMOUR. E. lafonte. 2012.
-site da Companhia Brasileira de Cartuchos: www.cbc.com.br
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
Tiro Embarricado
O Posicionamento correto durante o tiro embarricado é fundamental para um disparo eficiente, preciso e, principalmente, bem protegido.
Não basta atirar. É preciso não ser atingido também. Treine com um profissional qualificado. |
"Tiro não faz curva. O binômio exposição mínima corporal para um disparo Vs. ver o máximo do alvo a ser atingido é uma busca incessante pelo atirador."
Correto posicionamento corporal. O tiro não começa na empunhadura. |
Desde a colocação dos pés, joelhos semi-flexioandos, posição de quadril voltado à frente, tronco pronado, braços recolhidos e olhos abertos voltados ao perigo, a empunhadura do armamento é a consequencia de todo um corpo humano posicionado à Arte do Tiro.
O posicionamento de pernas é imprescindivel no correto tiro embarricado. |
Uma vez tomado o posicionamento corporal de efetuar disparos, se faz necessário embarricar-se corretamente. E aí temos variantes: O atirador está protegido. Porém não enxerga nada através de seu abrigo.
O posicionamento correto de pernas possibilita uma reação rápida a porventuros disparos contra o atirador. Não somente, não expõe de forma demasiada seu corpo para que possa sofrer algum disparo dos agressores.
Ver e não ser visto. É o objetivo de quem efetua um disparo abrigado.
Utilizar do terreno para avanço protegido se faz mister para que o atirador possa progredir ou retroceder com baixas chances de ser atingido por um disparo. Não apenas isso; expõe o mínimo de seu corpo para o agressor. O ideal é a exposição apenas de seu aparelho de pontaria, arma, olho diretor e somente.
Treino constante com um profissional qualificado são importantes para correções, que podem ser a diferença de um atirador protegido de um atirador atingido, mesmo estando tentar abrigado.
"O ideal é a exposição apenas de seu aparelho de pontaria, arma, olho diretor e somente."Um cuidado que o atirador abrigado precisa ter é quanto ao chamado "Corredor da Morte".
Imagine no local onde esteja o agressor uma lâmpada acesa. O atirador protegido, ao olhar o chão, irá observar o chão iluminado e a penumbra causada pelo abrigo.
O local da penumbra é a zona de segurança. Ali ele poderá permanecer ou operar seu equipamento, por mais que o agressor esteja efetuando disparos contra seu abrigo.
Já o local iluminado é o chamado "Corredor da Morte".
Ali o local está sob visada do agressor. É uma zona quente, onde a permanência do atirador deverá ser a mais curta possível, expondo o mínimo possível para efetuar o disparo com qualidade e neutralizar a agressão.
Podemos verificar que apesar do conceito ser estudado apenas para um atirador protegido de pé, temos as variantes para disparos agachado, ajoelhado e deitado, onda tais posicionamentos são estudados à fundo pelo Instrutor.
Tais conhecimentos táticos colocam um atirador de forma inteligente à frente da ameaça, dando suporte para seja no desporto, ou em tiro defensivo, em óbvia vantagem ao agressor que esteja efetuando disparos em campo aberto ou mesmo até abrigado de forma errônea.
Os estudos não se obstam em presente blog. Servem para despertar a curiosidade e tentar colocar as técnicas em prática quando operando arma de fogo ou de forma desportiva em suas variantes. Consulte o autor da página para qualquer dúvida acerca da matéria,
Obrigado!
terça-feira, 19 de julho de 2016
Assalto à motocicleta - Erro de Tipo
Antes de ler o texto, é de sumária importância você assistir ao vídeo para podermos discutir sobre o tema apontado no artigo.
Ao assistir os minutos da frenética perseguição, o espectador fica com algumas dúvidas agoniantes no pensamento: "Será que conseguirá a vítima fugir dos marginais?"; "Conseguirá fugir ileso, sem sofrer disparos de arma de fogo nas costas ou cair ao solo?" ; "Irá sobreviver?"
Último aviso, antes de prosseguir na leitura, veja o vídeo !!
Passado o susto de lombadas, quase acidentes, e diversas outras infrações de trânsito sob disparos de arma de fogo (eu ouvi um estalo que acredito ser do escapamento da moto) observamos o pobre condutor parando com medo e entregando seu bem material - a motocicleta - que tanto lutou para comprar à canalha do crime.
Eis que ao descer da moto, a surpresa. Após vários minutos de perseguição, que chegam de acordo do velocímetro da moto a 130 Km/h em vias residenciais que não se deve passar dos 30 Kms/h trata-se de uma irresponsável e errada brincadeira alusiva ao crescente preço dos alimentos no país.
E quais consequências desse ato irresponsável e impensado poderiam acarretar para um cidadão armado que vislumbrasse o assalto? Se isso ocorresse na frente da sua casa, como ocorreu defronte o quintal de um cidadão; quais as consequências para um cidadão armado que tem a posse de arma de fogo? Ou o cidadão que possua o porte de arma? Para um agente da lei, seja civil ou militar, quais as consequências na vida, carreira, liberdade perante a atitude infantil e imatura dos condutores das motos?
É o que estudaremos à seguir.
Vamos supor que o leitor esteja em sua residência e que tal perseguição termine em seu quintal aberto, ou; o leitor tenha porte de arma de fogo. Que assista a toda a situação, que é explorada pela mídia nacional (roubo/latrocínio envolvendo motos), bem como redes sociais sobre o roubo de motocicletas esportivas.
A cena é clara: um condutor de uma motocicleta pilotando acima da velocidade em via coletora, olhando para trás; logo em seguida, duas pessoas sobre uma outra motocicleta de potência considerável ( A motocicleta Honda/Falcon é utilizada até hoje como viatura policial), estando o garupa com a mão no bolso.
Barulho de estalos.
Mais estalos.
Os elementos levam o civil que possua uma de fogo à crer, sem sombra de dúvidas o inevitável: trata-se de uma tentativa de assalto à motocicleta. Coloque-se então na função de agente da Lei. Em patrulhamento uma motocicleta de grande porte e potência passa por você em via pública. Logo atrás outra motocicleta com dois indivíduos. Estalos. Mais estalos.
Os elementos apresentados apontam, sem sombra de dúvidas, estar ali ocorrendo uma tentativa de assalto. Não há dúvidas quanto à tentativa de obtenção de bem alheio móvel mediante grave ameaça, principalmente ao se ouvir os barulhos de estalos, que vide o clamor do que ocorre levam a crer em ser disparos de uma arma de fogo. Vidas correm risco.
Eis que a infantil e imatura brincadeira toma forma em uma via deserta.
Após a abordagem, que se apresenta de maneira agressiva e imperativa, os "algozes" arrebatam um saco de feijão. E vão embora.
Mais de sete minutos de perseguição, quem levam à crer sob todos os fatos que se tratava de um assalto com periclitação de vida dos envolvidos e terceiros transforma-se em uma brincadeira de absoluto mal gosto.
Independente da infantilidade dos autores do vídeo, trago à reflexão ao leitor atirador, colecionador, possuidor ou portador de armas de fogo: E se você tivesse tomado uma atitude com sua arma de fogo na tentativa de salvar a vida do jovem que filmava tudo, quais seriam as consequências para sua vida?
Levo à reflexão aos agentes da Lei que observaram o vídeo: quais seriam as consequências na sua vida pessoal, profissional se tivesse utilizado de sua arma de fogo ao ouvir os estalos e efetuar disparos, claramente embasados então na excludente de ilicitude? Se tal perseguição tivesse ocorrido em ambiente de baixa luminosidade, quais seriam as consequências para a vida do agente; para a vida dos autores do vídeo; para a Instituição policial?
.......decerto, o vídeo toca em um assunto jurídico aqui necessário de conhecimento para aqueles que possuem posse ou porte de arma de fogo. O Erro de Tipo.
Erro de Tipo - Qual a importância de um possuidor de arma de fogo saber?
Qual a importância? Simples. Aquele que opera uma arma de fogo possui poucos segundos, quando os possui, para tomar uma decisão aparentemente simples, mas que causará consequências talvez irreversíveis para si e outrem: o de acionar a tecla do gatilho e atingir pessoas embasado em uma excludente de ilicitude,apontado elementos fáticos que levaram o atirador a tomar a decisão certa. Certa mesmo? Será? Veremos:
No Código Penal Comum;
Art.20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
§1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.
§2º- Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.
§3º- O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queira praticar o crime.
Ao interpretar a Lei, verificamos que os motivos o qual levaram um atirador civil ou agente da Lei civil a reagir ao assalto e periclitação de vida de outrem são justificáveis: Podemos verificar no vídeo:
- uma motocicleta em fuga de outra moto com duas pessoas em velocidade acima do normal;
-cometimento de transgressões de trânsito;
- nervosismo demonstrado pelo condutor da motocicleta em fuga;
-manobras evasivas da motocicleta à vanguarda;
-manobras de perseguição da motocicleta no encalço da primeira;
- mãos do garupa sempre dentro dos bolsos da blusa, como se algum objeto ali segurasse, provavelmente arma de fogo, ao invés de segurar nas barras de segurança da moto;
- estalos que podem ser interpretados como disparos de arma de fogo;
-parada da motocicleta em fuga compelida pela motocicleta que realiza a perseguição;
-desembarque do garupa e mediante grave ameaça e tom imperativo de voz realiza abordagem e tomada de bens materiais.
Porém, embasado nisso poderia um cidadão possuidor de arma de fogo defender a iminente ou atual agressão com disparos de arma de fogo?
No Código Penal Militar;
Art. 36- É isento de pena quem, ao praticar o crime, supõe, por erro plenamente escusável, a inexistência de circunstância de fato que o constitui ou a existência de situação de fato que tornaria a ação legítima.
§1- Se o erro deriva de culpa, a este título responde o agente, se o fato é punível como crime culposo.
§2- Se o erro é provocado por terceiro, responderá este pelo crime, a título de dolo ou culpa, conforme o caso.
Guilherme de Souza Nucci em seu livro "O Código Penal Militar Comentado" aponta: "o agente que pratica o crime, supondo a inexistência de elemento fático constitutivo do tipo, quando escusável, afasta o dolo, que termina por não abranger todos os elementos do tipo penal (...). Entretanto, sendo integralmente escusável o erro do agente, afasta-se também a culpa, absolvendo-se o réu."
Em outras palavras, a aplicação do Erro de Tipo precisa ser integralmente escusável, ou seja; não haver possibilidade de descoberta da verdade. Frente a tal inóspita situação, como poderia o cidadão que possui arma de fogo, seja no interior de sua residência ou vislumbrando a situação em via pública, evitar a tragédia? Afinal... se porventura os jovens da moto que realizaram a "abordagem" fossem baleados, teríamos uma tragédia em larga escala. Como evitar portanto?
A solução: Uso progressivo de Força
Percebam que na Lei, seja Código Penal Comum ou Código Penal Militar, existe um apontamento: Caso os fatores sejam escusáveis ( os fatores levam a crer piamente que o vídeo se trata de uma tentativa de assalto) há o afastamento do dolo, mas não necessariamente da culpa. Temos aí a diferenciação daquele que pode agir em função do dever e aquele que deve agir em razão da profissão. Logo, o atirador civil que age assume as consequências de seus atos, devendo demonstrar por elementos fáticos o que acreditou ver, no vídeo, o assalto.
Independentemente da imaturidade, como pode aquele que age em legítima defesa armada evitar uma tragédia em sua vida e na dos autores do vídeo? Através do uso progressivo de força.
Nem tudo o que é, parece ser. Nas aulas de tiro é uma frase constante. Trata-se de um marginal armado? Ou um policial à paisana caminhando com arma de fogo na mão?
Existe um pequeno, porém importantíssimo detalhe no vídeo que não afasta a culpa seja por imprudência ou imperícia (dependendo de quem atira em defesa): qual é a agressão imediata à vida do condutor que foge de seus algozes? Onde está o instrumento de agressão, seja arma branca ou de fogo? Simplesmente não aparece. Não há nada ali que coloque de imediato a vida do proprietário da moto potente ( e de seu rico saco de feijões) em risco. Logo, apesar de elementos escusáveis, não existem elementos plenamente escusáveis, que é o contato visual com o instrumento de violência: A ARMA DE FOGO.
Aos civis Possuidores de Arma de Fogo
Atirador! Não se esqueça de que sua arma de fogo é um bem adquirido para sua defesa e de sua família no interior de sua residência. Antes de tomar uma atitude armada, não se esqueça de solicitar apoio à Polícia e de falar ao telefone que você POSSUI ARMA DE FOGO para não ser confundido com um agressor.
Siga a máxima ( que não foi criada por mim) para evitar tragédias: V.I.D.A.
Eu Vejo = é uma situação de risco iminente ou imediata?
Eu Identifico = quem nesta situação é a vítima e o algoz? Tenho certeza disso?
Eu Decido = há risco iminente de vida à ponto de necessitar ferir outrem para proteger terceiros ou à mim?
Eu Atiro = embasado nas excludentes de ilicitude.
Aos Agentes da Lei
Policial! As atitudes tomadas de serviço não apenas causam consequências à você, mas para sua profissão, a Instituição que representa e ao Estado. A arma de fogo é o último recurso a ser adotado, possuindo ainda uma sequencia lógica de uso de progressão de força. A ostensividade uniformizada ou fardada já denota autoridade policial. Decerto uma tragédia seria evitada pelo simples fato da viatura policial iniciar o acompanhamento com sinais luminosos e sonoros acionados, onde automaticamente os amadores autores do vídeo parariam para evitar maiores problemas.
Conclusão
A utilização de arma de fogo é um recurso extremo que causa consequências irreversíveis para quem a utiliza e para quem é utilizada. Presente artigo não tem a finalidade de esgotar o assunto, mas sim de iniciar uma discussão entre profissionais e entusiastas no assunto para que tragédias sejam evitadas e vidas sejam mantidas.
FONTES:
Código Penal Comum
Código Penal Militar
Programa de Integração das Normas de Direitos Humanos e Princípios Humanitários Aplicáveis à Função Policial -Comitê Internacional da Cruz Vermelha
Método Giraldi de ensino - PMESP
Código Penal Militar Comentado. Nucci, Gulherme de Souza. 2 ed. Rio de Janeiro, Forense, 2014.
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