segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Limpeza rotineira da arma de porte

             Por solicitação de algumas pessoas que me procuraram, voltei a escrever sobre assuntos mais discutidos entre agentes de segurança, estandes de tiro, balcões de clubes e lojas de armas pelo nosso país.
             Hoje venho discutir uma das variadas formas de limpeza de arma. Variada digo, pois, dependendo de sua utilização, existem alguns pontos que precisam ser tratados com maior cuidado. E "a bola da vez" é a arma usada na categoria porte.
Imbel MD5 LX, calibre .40 S&W: Arma de porte de uso cotidiano do autor.
            Apesar de toda manutenção possuir a finalidade de deixar a arma em condições de pronto uso, como eu disse, a forma a qual foi utilizada irá influenciar no escalão à ser desmontado, bem como a forma de limpeza.

            Não atirei com a arma. Preciso limpar ela?


Arma sem efetuar disparos por duas semanas, carregada todos os dias. É um pêlo ali na placa de punho?
            Uma arma de fogo necessita ser limpa com frequência sendo usada para disparos ou não. Aliás, o termo "usar a arma" é algo que engloba o manuseio, porte, transporte, depósito ou disparo da arma. Logo, cada utilização necessita de limpeza mais específica. Por exemplo; uma limpeza à ser realizada em uma arma após dezenas de disparos necessita maior atenção quanto aos resíduos de pólvora e quantidade de chumbo.
            A arma usada na categoria porte possui cuidados específicos. Afinal, um pedaço de aço em constante contato com a pele humana sofre mais desgaste do que se imagina.

            Sal

É possível observar na rampa do cano o formato da digital do autor. Acúmulo de sal após toque.
            O nosso corpo é uma constância entre sódio e potássio. Para manter tal equilíbrio o organismo libera, das mais variadas formas o cloreto de sódio para que a máquina humana não pare. Uma dessas formas de liberar o sal é através do suor. Seja através das mãos ou do restante da pele quando a arma estiver junto do corpo do atirador, o equipamento em contato com sal e oxigênio inicia um invisível, porém presente processo de oxidação da arma. Logo, a constante limpeza da arma após lidar com ela é imprescindível.

        

             Pele

Observe os pontos brancos na arma.
           O maior órgão humano é a pele. E o mais exposto também. Justamente pelo fato de ser a mais agredida pelo meio que a cerca, a pele é o órgão que possui maior regeneração e troca constante de camadas. Questão de sobrevivência.
          A poeira em nossa casa possui um considerável porcentagem de pele morta. Está ocorrendo agora, enquanto você lê esta matéria. Ocorre enquanto você dorme. É um processo que não pára instante algum.
         A arma, um mecanismo formado por peças ficará com certeza coberto com pele morta. Ao observar a arma que carrego todos os dias junto ao meu corpo, após duas semanas terá em seus cantos vivos uma fina camada branca de poeira. Pois bem. É a pele que escamou e ali ficou. Perceba que atrelado ao sal essa fina camada inicia de forma oculta e silenciosa um processo de oxidação invisível ao olho nu, mas que está ocorrendo.
Observe em todo canto da arma os pontos brancos acumulados: pele morta juntada.


             Água

          O processo de oxidação é catalisado com a presença da água. Logo, sempre que tomo chuva (ando de motocicleta e armado) a minha arma, com certeza, estará impregnada de suor, sal, pele morta e água. Um prato cheio para mudar da cor escura para alaranjada em dias.
Base do carregador: Acúmulo de água decorrente de chuva provavelmente (meu caso). 

           É preciso portanto de uma camada de óleo entre o metal da arma e os demais produtos que iniciam a oxidação. Tal camada não pode ser exagerada. É o que iremos comentar adiante.

                   

             Graxa ou Óleo Lubrificante

 

          Conforme já dito, a solução para impedir que o metal inicie sua oxidação por contato de ar, suor, sal, água ou pele é uma camada de óleo mineral em toda a arma. Mas, cuidado! Impregnar seu armamento de óleo lubrificante não é a solução.
         O simples fato de empunhar a sua arma já coloca em contato com a gordura do corpo, presente na pele. Porém não podemos deixar de simplesmente tocar na arma. O que nos compete é tomar o cuidado de toda vez que mexer no armamento, mantê-lo limpo logo após o uso.
Extrator: A graxa retém pólvora incombusta por todo o metal.

          Outra coisa: a lubrificação excessiva pode contaminar as munições. Principalmente óleos extremamente finos, como os da linha "40". Sua diminuta composição molecular pode comprometer a munição, molhando a pólvora ou a espoleta.
          Se recordam da pele morta? Da mesma forma que ela repousa no armamento, um simples deslocamento de ar as remove, EXCETO se lá o metal estiver impregnado com óleo. É imprescindível que a arma esteja lubrificada com as óleo lubrificante para a diminuição de atrito entre as peças móveis e portanto, o aumento de vida útil do armamento. Porém o exagero deste óleo potencializa a criação de borras que nada mais são que acúmulos de agentes oxidantes, vindo a danificar seu armamento à longo prazo e à curto prazo podendo criar panes e falhas de funcionamento.

                  Limpeza: Como fazer
         
              A retirada de poeira pode ser feita com um compressor de ar. Caso não tenha, uma escova com cerdas pode ser utilizada para a retirada de toda a sujeita. Existem alguns tipos de sujeiras, como o resíduo de gordura ou graxa que não saem simplesmente com a força da escova. Nesse caso, pode-se utilizar óleo mineral ou o tipo 40 para a limpeza das peças. Além de retirar todo resíduo de água, sal ou gordura dos dedos, estará criando já uma camada protetora das peças.
Após alguns minutos, a oxidação é desprendida do metal graças à ação do óleo tipo 40.

Mistura de óleo tipo 40 com ferrugem. Foi necessário utilizar escova de latão com um pouco de força para retirar os depósitos de oxidação mais profundos.


            Pontos de oxidação devem ser limpos com óleo tipo 40. Dentre as propriedades desse tipo de óleo, está também o de extinguir a oxidação que esteja ocorrendo. Normalmente deixo o óleo ali alguns minutos sobre a ferrugem para que possa agir. Caso seja necessário, uso escola de metal para um atrito um pouco mais forte e após isso retiro a sujeira. É importante deixar esses minutos sobre o material para que a reação química da oxidação seja interrompida. Na foto é possível observar o óleo se transformar em uma borra alaranjada após algum tempo. Uma vez cumprida a sua finalidade, basta apenas retirar o excesso e deixar uma fina camada limpa para que a ferrugem não ocorra mais.
.....agora sim!
            As borras devem ser retiradas com o uso de óleo mineral ou tipo 40, para que ali seja encerrado qualquer tipo de oxidação que por acaso esteja ocorrendo, bem como, seja todo material impuro retirado.
            A arma precisa ser montada limpa e lubrificada, porém, sem excessos. Não podemos observar escorrimentos de óleos após montada e considerada finalizada a limpeza. Não se esqueça: todo excesso de óleo será uma poça de formação de borra em dias.

                        Conclusão

            Uma arma usada para o porte possui como principais adversários o sal oriundo do corpo e a pele morta que, misturando-se com graxa ou óleo em excesso causam borras e falhas de funcionamento. A limpeza, mesmo não atirando com a arma, são importantíssimas para a curto prazo manter a arma livre de panes de funcionamento e, para longo prazo, oxidações em pontos ocultos. 


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Passagem de cano pelo abrigo

                  O fatiamento em paredes ou obstáculos, apesar de ser um assunto muito discutido e batido em aulas de tiro, apresentam alguns aspectos que são constantemente relembrados durante os treinos práticos.
Seja para a progressão em campo real; seja para a saudável prática de airsoft através do treinamento Force - on - force, a correta execução é imprescindível para a sobrevivência.



                  Ao observar o vídeo acima de um jogo de airsoft, notamos um erro básico: em primeira pessoa o jogador, mesmo abrigado, realiza o fatiamento para progredir no terreno. Porém, foi eliminado. Culpa do adversário que o atingiu?? Ou erro de procedimento?

                   Projétil não faz curva. Para ser visto o jogador também deveria observar de onde partiram os disparos. E não foi o que ocorreu. O erro? A demonstração de sua presença para os adversários sem conseguir realizar uma visada para se defender.

                    Um erro primário, como já disse, que custou caro. Ainda bem que era um jogo de airsoft. Caso fossem disparos reais, o erro seria irreversível. Vamos aprender.

Seu Limite é a ponta do cano

                    Fatiamento perto ou longe do anteparo? Depende. Cada caso é um caso. Exponho em minhas aulas as situações em que são convenientes estar próximo ou não da cobertura a ser fatiada. Fato: o seu limite é a ponta do cano.

Correta posição para o fatiamento.
Apoiar a arma no anteparo pode ser mais confortável. Mas pode ser fatal.


As imagens falam por si. Ao realizar o fatiamento, o armamento precisa estar em condições de pronto emprego*. A exposição desnecessária, além de aumentar a sua massa para ser atingida por disparos adversários, permite demonstrar de forma desnecessária o seu posicionamento.

"Armamento em pronto emprego: arma em condições de disparo perfeitamente alinhado ao seu aparelho de pontaria. Em todo instante."
A área em vermelho, de Perigo, será dentro da proporcionalidade Velocidade X Técnica verificada com segurança.


                     Além do correto posicionamento de pernas e braços que cobro arduamente em minhas instruções, o atirador precisa ver e olhar.
               
                    Qual a diferença?
"Não basta ter a visão do que está além do abrigo. É preciso olhar e realizar a correta leitura do cenário. Assim, ao fatiar o terreno, somente quem estiver na sua linha de tiro poderá lhe atingir. Não existem desvantagens táticas nessa hora."
Ao ultrapassar o cano do anteparo, você está adentrando a área de perigo ( assinalada de vermelho). Poderá ser atingido, sem chance de reagir.

                
                       Já quem ultrapassa o limite com o cano dá chance de ser visto e não ver. Poderá, mesmo que realize o fatiamento, ser atingido por disparos sem chance de reagir.

Sob outro ângulo. Quem avança de forma errada não possui chance alguma de reagir. Um alvo perfeito para quem está na defensiva.


                            A passagem do cano é um tema básico em cursos táticos que vislumbram progressão em terreno. Seja para medida real ou recreativa na utilização de armas, a falta de treinamento deste item muitas vezes leva ao agente que está progredindo a ser identificado no campo de forma precoce, sendo colocado por ele mesmo em desvantagem e perigo.

                             O treino, bem como a avaliação de risco devem ser realizados junto de instrutores credenciados e formados para que o avaliado possa caminhar com suas próprias pernas - literalmente.
                       
 Apesar de muitos cursos "táticos" pregarem treinos extraordinários, muitas vezes quando são colocados em prática descobrimos que os ensinamentos absorvidos não servem.
                           
                                 Melhor que treinos extraordinários de situações hipotéticas que podem ser que nunca ocorram, o melhor treino é o realizado com constância de questões básicas de tiro, como a passagem de cano pelo anteparo. Tais treino têm sido de maior relevância e importância no meio de usuários de armas, de fogo ou não.