terça-feira, 29 de novembro de 2016

Carabina CBC 8022

Hoje falarei de uma arma que possuo um grande apreço; seja pela sua mobilidade, facilidade, manutenção e herança bélica. Estou falando de uma carabina de fabricação nacional de uso permitido, de fácil manutenção e excelente custo-benefício: as Carabinas da CBC, em específico, a modelo 8022.




Dos dados técnicos

Na foto, alavanca do ferrolho da carabina CBC8022.


O sistema de carregamento manual, por ação de ferrolho, foi uma das características que mais me atraiu entre este modelo e o modelo 7022. Falarei mais adiante destas diferenças. O sistema "bolt action" emprega toda a queima de pólvora para impulsão do projétil, o que não ocorre no sistema semiautomático.







Dependendo da região do país, o cartucho .22lr custa menos que
R$1,00.


O calibre .22lr possui como grande ponto positivo a relação custo-benefício. É a arma que mais se pode atirar e tal prática caber no bolso do usuário.
Quando estava por comprar uma carabina para treinamento de tiro de precisão, cheguei a pensar em adquirir uma carabina Puma, o modelo famoso Winchester, no calibre .38. Este calibre possui um poder de parada muito superior à .22lr, associando ainda mais o comprimento do cano de uma carabina.

Entretanto, o preço médio da munição me convenceu em optar pelo .22lr. Apesar de possuir um modesto poder de parada e de ser usado como opção de segurança pessoal e patrimonial, claro que, associando o tipo de munição .22lr à ser utilizada, o comprimento do cano da arma, distância do alvo e local de impacto, a carabina possui vantagens em relação à uma arma curta de calibre superior. Farei alguns considerandos mais adiante.


O carregador possui capacidade de dez disparos. Para disparos de precisão possui boa capacidade. Diferente do caso do carregador de carabina modelo 7022, que sugere disparos mais rápidos pelo fato de ser semiautomática. Para tiro dinâmico, que envolve movimento, a capacidade é aquém do esperado.

Os Acabamentos existentes para o modelo 8022

Não existe armamento 100% adequado. O usuário antes de escolher o modelo final deverá levar em conta o propósito de aquisição do armamento aliado ao gosto pessoal.
A coronha possui duas opções de compra: em madeira de lei tipo Monte Carlo envernizado ou polipropileno com fibra de vidro. Para um emprego mais rústico do armamento, como uma constante de ambiente rural, local este sujeito às intempéries e ao meio aquático sem sombra de duvidas a coronha de polímero é melhor, afinal, não exige um cuidado maior além de manter seca e limpa. Já a coronha de madeira possui melhor acabamento e beleza. Não obstante, para atiradores que prezam por um equipamento elegante ( que é o meu caso) e maior fidelidade às armas snipers da Segunda Guerra Mundial, opta-se por acabamento em madeira. Ressalto que em qualquer instante o proprietário pode adquirir e comprar a coronha que não possui e realizar a substituição sem necessitar alterar dado nenhum na CRAF (certificado de registro de arma de fogo). Existem alguns atiradores que inclusive customizam uma coronha própria para ser utilizada no armamento.
O acabamento com o cano oxidado dão ao atirador uma vantagem furtiva. Entretanto, é a forma que o metal mais facilmente oxida. Diferente do acabamento inoxidado, dando maior durabilidade ao equipamento em ambiente rural.

O sistema de mira possui massa fixa e protegida; alça regulável micrometricamente. Possui em seu corpo local para acoplar mira ótica, considerando sua finalidade de tiros de precisão. Acrescento que o modelo 7022 possui mesmo local para adaptar sistema de pontaria.
O tipo de luneta não pode ser superior a 6X36mm (aumento de seis vezes no zoom, por trinta e seis milímetros de diâmetro da lente da luneta) no caso de acessórios de arma de uso permitido.  E recomendo que não se utilize acima disso, considerando que o disparo de precisão ( e isto é relativo) desta arma gira na distância de 200-300 metros.

Herança Bélica: O sistema Mauser
Ferrolho da carabina 8022: sistema empregado desde 1871 com poucas modificações.


Não basta apenas saber atirar; é preciso saber a origem deste sistema empregado até hoje em armas longas por sistema de carregamento por repetição.
Dentre as vantagens do modelo 8022, o sistema Mauser é um que abrilhanta. Explico:
Os modelos semiautomáticos utilizam parte da pressão gerada da queima de pólvora para ciclar o sistema.


E o que é "ciclar" o sistema?



Após o disparo, é necessário ejetar o estojo da câmara para que seja inserido novo cartucho e assim a arma esteja em condições de efetuar novo disparo. Além do ferrolho projetado pelos célebres irmãos realizar tal tarefa, quando o usuário força a alavanca para baixo ( o que é um charme que só perde para a ejeção do estojo), o sistema é trancado para que não haja fuga de gases decorrentes da explosão.

Ocorre que a a explosão da pólvora contida no cartucho, no sistema semi-auto, é empregado para realizar a ciclagem do sistema além de impulsionar o projétil. Logo, parte dos gases que deveriam estar impulsionando o projétil ao longo do cano estarão sendo empregados para outra finalidade. O sistema Mauser impede isso.
O sistema de carregamento manual é feito por força muscular. Claro que isso torna a cadência dos disparos mais lenta. Porém é ponto pacífico que o projétil deixa o cano com maior velocidade.

Para disparos mais rápidos, com pluralidade de alvos ou alvo em constante movimento, onde o primeiro disparo pode não ser o certeiro, prefira armas semi-automáticas. No caso das carabinas de uso permitido de fabricação nacional, o modelo 7022.
Resumindo: O sistema Mauser emprega a expansão de gases totalmente para impulsionar o projétil. Já o sistema semi-automático retira parte desta expansão para ciclar o sistema.

O sistema de carregamento criado pelos irmãos Peter Paul e Wilhelem Mauser foi o que se consolidou. Entretanto não foi o único. Ressalto que desde 1860 armas passaram a usar sistema de carregamento por manobra mecânica de ferrolho.
Em paralelo à tecnologia européia, o projetista Tyler Henry ( EUA) em 1862 lançou a carabina modelo 1860, projeto da indústria Whinchester, embrião da modelo Winchester 66, a famosa "yellow boy". Iniciava aí um modelo de arma que merece reportagem dedicada totalmente à sua criação, famosa pelo emprego no oeste americano. Armamento até hoje fabricado no Brasil, de consagrado uso por atiradores e caçadores em nosso país em calibres permitidos .38 e .44-40.


A criação do sistema de manobra de ferrolho no Tempo.



Diferente do sistema de repetição americano, que era acionado por alavanca no guarda-mato, o sistema europeu era de repetição por alavanca na parte superior do ferrolho, sendo mais prático este para tiros inclinados e mantendo o armamento no ombro encostado.

Uma imagem que resume o desenvolvimento de armas longas no século XIX: O acionamento mecânico do ferrolho nos modelos americano e europeu.




O armamento criado pelos irmãos Mauser no ano de 1871 foi a base do fuzil de infantaria k98, o Mauser Infanteriegewehr 98, do ano 1898. Este modelo foi emprego nas Primeira e Segunda Guerra Mundiais, sendo exato modelo de mosquetão usado no Brasil até os dias de hoje em escolas militares para cursos de maneabilidade. Durante dois anos e meio este autor, quando em Formação na Academia de Polícia Militar do Barro Branco utilizou o mosquetão com o célebre sistema de carregamento.


De 1898 aos dias atuais. As modernas armas snipers, por ação de alavanca de ferrolho até hoje utilizam o sistema Mauser.


Teste de agrupamento X velocidade de ciclagem. Teste feito em 2011.


O estudo de um armamento não é, antes de mais nada, um desperdício de tempo bem como uma "encheção de linguiça". O sistema Mauser, muito criticado por "Instrutores" e "atiradores" que, de forma perniciosa postam vídeos e textos na internet criticando o armamento são antes de mais nada formadores de opinião. Tais artigos são confeccionados, muitas das vezes, por opiniões particulares e de forma ilógica, sendo o respectivo autor um desconhecedor total do equipamento bélico que possui em mãos.

Muito vejo críticas ácidas sobre o modelo 8022; porém os autores destas críticas não sabem sequer que o sistema de carregamento passou por duas grandes guerras mundiais e opera até a atualidade em forças armas de policiais do mundo todo, há quase um século e meio após sua criação.


Tipos de Munição

Das munições produzidas no Brasil para uso em carabinas, as chamadas .22lr (lr = long rifle = armas longas); possuímos seis tipos. Vou colocar abaixo um link da fábrica CBC, que possui um arquivo em .pdf bem completo sobre o assunto:

http://www.cbc.com.br/upload/informativos/7.pdf


Farei alguns considerandos sobre munições que mais utilizo e encontro com facilidade em clubes de tiro:

Standard: Com ponta de 40 grains, é a munição mais barata vendida em caixas contendo cinquenta cartuchos ou em pequenas latas contendo trezentas unidades. É a munição a ser utilizada para disparos com relativa precisão. Eu digo "relativa precisão" pois o que considero preciso pode não ser para você leitor, e o inverso. Falarei mais adiante obre isso. Para a prática de plinking (tiro em lata) a munição standard possui ótimo custo-benefício.


            Relativa precisão: Dependendo da distância o conceito "precisão" é alterado. Até distância de vinte metros, a precisão poderá ser considerada a cabeça de um palito de fósforo. A 250 metros, para uma carabina .22 em ambiente aberto, suscetível à vento, umidade, pressão e outros fenômenos meteorológicos, o acerto do alvo humanóide em qualquer ponto poderá ser considerado preciso também.

Hyper: A ponta oca, com acabamento em latão garante maior poder de parada da categoria. A energia em Joules está próxima da munição ogival - ponta de chumbo de um revólver .38, sendo o cano deste de quatro polegadas de comprimento.
O efeito da câmara temporária causada pela ponta "hollow point" garante eficiente transmissão de energia, sendo a melhor opção para defesa pessoal. Para disparos em corpos líquidos a eficiência é a maior.
Câmara temporária: é o deslocamento de líquidos e tecidos durante a passagem do projétil no corpo, gerado pela deformação da ponta em decorrência do princípio de ação-reação entre os objetos.

 Finalizo os considerandos do binômio arma-munição aqui em dois tópicos:
O calibre .22lr possui como grande qualidade a possibilidade de compra em larga escala. Além do preço em conta, a legislação vigente permite o usuário adquirir até trezentos cartuchos por mês. É uma considerável quantidade de disparos para tiros de precisão.
Logo, a arma é indicada para iniciantes e entusiastas no esporte. Apesar da munição possuir alcance total de quase um quilômetro ( este valor varia bastante), o disparo possui relativa precisão para prática de tiro ao alvo e plinking. Mas definitivamente a arma não serve para um disparo de comprometimento.
Disparo de Comprometimento é o termo usado para o tiro policial dado por um sniper em um agressor dentro de um teatro de operações durante uma Crise, sendo esta uma das opções táticas possíveis.


Além do baixo poder de parada, há outro fator preponderante para que o armamento e sua munição não seja empregado em tiros de comprometimento. Vamos observar a figura abaixo:
Munições nacionais CBC cal .22. FONTE: SITE DA CBC.
Peço que sejam observadas as figuras da terceira fileira, mais abaixo, a qual representam os cortes transversais dos projéteis. Verifiquem que o formato côncavo prepondera em todos os projéteis.
São todos projéteis com base côncava, ou "cup base". É uma base de projétil de uso geral, que possui como finalidade aumentar a pressão de impulso no centro do projétil, lançando com a máxima velocidade possível.

Já uma ponta utilizada para disparos em longas distâncias, inclusive o tiro de precisão para centenas de metros, possui uma ponta conforme figura abaixo:






Percebam a parte inferior do projétil, que vai crimpada no estojo. Possui um formato chamado de "boat tail", ou então, popa de barco. Esse design permite ao projétil melhor aerodinâmica, sendo mais fiel à balística, sofrendo da menor forma possível aos efeitos que tirariam da rota previamente planejada no momento do disparo.

Logo, a munição da CBC não possui projeto de disparos de longa distância. Seja pelo modesto calibre .22; seja pelo formato da ponta; seja pela qualidade de pólvora empregada nos cartuchos de fogo circular, a carabina CBC8022 SIM é uma opção barata, porém, mesmo tendo como base o projeto Mauser, não possui condições determinantes para efetuar um disparo com qualidade para centenas de metros.
Não é a munição que possui baixa qualidade, portanto. É o projeto que não permite - e não deve permitir - uma balística estável.

Mais uma vez reforço a escolha pela carabina com alavanca no ferrolho ao invés da carabina modelo semiauto. A expansão dos gases do modesto calibre .22 é totalmente utilizada na impulsão do projétil, o que não ocorre no 7022.

Não vou aprofundar neste tema. Não é, desta vez, o objetivo. Tal discussão necessita maior conhecimento. Mas fica a idéia para uma próxima reportagem.


Carabina CBC8022 em primeiro plano. Logo na sequencia um fuzil Imbel AGLC, calibre .308Win. Em terceiro plano um fuzil Imbel M964, calibre 7,62mm. Fotos do autor, tiradas no Centro de Treinamento Tático - CBC. MAR/2013.

Funcionamento e Limpeza





O registro de segurança da carabina está no guarda-mato. Aparecendo o registro vermelho a arma está em condições de disparo.
A inserção do carregador na arma é análoga de qualquer pistola.
Para carregar o armamento, o movimento no ferrolho precisa ser firma, mas não necessariamente forte.




Indicador de sistema armado.

Existe a indicação - uma marca vermelha - na parte superior do ferrolho, indicando que o sistema está armado. Não necessariamente indica que exista uma munição na câmara.
Não se deve guardar a arma nesta situação, pois a mola permanecerá tensionada.









Caso a arma esteja carregada e o atirador decida por não efetuar mais o disparo, deverá ser seguidas as normas de segurança para descarregá-la.

Com a arma travada, dedo fora do gatilho e apontada para direção segura, o usuário deverá retirar o carregador e manobrar o ferrolho de duas a três vezes, realizando inspeção física e visual.

Para limpeza do armamento, após verificar que a arma de fogo está descarregada, o usuário deverá manobrar o ferrolho para trás e acionar a tecla do gatilho, retirando totalmente o conjunto.
Após limpeza o processo de montagem é inverso.

Dica: A limpeza do armamento deve sempre ser realizado da câmara no sentido da coroa do cano, nunca o oposto. Por dois motivos:
1º - A sujeira resultante da combustão da pólvora é lançada para fora do armamento e não o contrário;
2º - O movimento repetitivo e lateralizado com as hastes de limpeza próximo à coroa do cano provocam microlesões que, ao longo do tempo, provocam desestabilizações na saída do projétil. Para uma arma de precisão, tal característica pode gerar a condenação da arma para a disparos precisos.

Coroa do cano da carabina CBC8022.
Coroa de cano: Ao observar o final do cano da arma, é possível verificar que ele não é completamente redondo. Possui cheios e vazios que dão o movimento helicoidal ao projétil. A preservação uniforme - e o desgaste também - dessas estrias garantem a boa balística da arma. Tal saída possui o nome de coroa do cano.

















Considerações Finais


O armamento possui ótimo custo - benefício. Considerando as dificuldades atuais para a aquisição de arma de fogo em nosso país e; a documentação para a compra e transporte de munição, cem como quantidade de cartuchos, o calibre .22. é a opção mais viável para a prática de tiro esportivo e plinking.
O estampido da arma é menor frente aos outros calibres.
O preço da munição permite muitos disparos.
A manutenção é fácil de ser executada. É um armamento que possui plenas condições de estar décadas em "status quo" operacional.
Seu sistema de carregamento, de exsperiência secular, foi utilizado por exércitos nas Primeira e Segunda Guerras Mundiais por ambos lados do conflito. E é até hoje utilizado para armas de longo alcance e precisão.
Para iniciantes e entusiastas no tiro de precisão, a CBC8022 é uma excepcional escolha. Adquiri a minha em 2010 e até hoje não me arrependi da aquisição. Adquiri posteriormente uma carabina puma cal .38 para defesa. Entretanto da modesta, porém valente CBC8022 não me desfiz.
Fiz uma ótima escolha para a saudável prática do desporto.
No vídeo abaixo, dentre alguns que gravei, executo uma série de disparos. Uma pequena demonstração do que a arma é capaz de fazer.


FONTE:
-Machado, Maurício Corrêa Pimentel. COLEÇÃO ARMAMENTO. Edição I. 2010.
-Dorling Kindersley. WEAPON: A VISUAL HISTORY OF ARMS AND ARMOUR. E. lafonte. 2012.
-site da Companhia Brasileira de Cartuchos: www.cbc.com.br